sexta-feira, 31 de outubro de 2008

história 156: feliz dia das bruxas, pomba-gira.

todos sabem que hoje nos EUA é o halloween, também conhecido como dia das bruxas. preguiça demais mas explicar as origens desse feriado que, por assim dizer, saí de nosso convencional. aqui não se comemora, oficialmente, o halloween, mas nem por isso a gente deixa de lembrar, né? dizem meus amigos americanos, que nos últimos tempos, lá na terra do tio sam, o halloween tem significado, na menos, do que o dia que as adolescentes usam roupas sexy sem receber o nome de bitch!

"...e como seria comemorado o halloween aqui na bahia?", pensei, mas não cheguei a uma conclusão... conclusiva. pensando no esoterismo da data lembrei das festas de santo em ilê de macumba, talvez isso poderia ser o que mais me aproximaria da data comemorativa americana, na verdade não tem nada haver uma com a outra, mas tô afim de falar do dia que eu fui na macumba, vou contar minha experiência numa festa de exú no ilê aqui de minha cidade.

eu tinha curiosidade de ir numa dessas festas, e o convite surgiu quando aconteceu uma festa de pomba-gira, um exú feminino.
eu fui com mais duas amigas que também tinha curiosidade de saber como era as comemorações do povo. a festa era à tarde, estava fazendo um calor de mais de trinta graus. quando mais eu me aproximava da casa mais eu escutava o batuque dos tambores, não vou mentir, nasci com o pé na senzala, por que aquela batida me deixa louco do edi. passei por um corredor e cheguei numa sala retangular ligeiramente pequena para a quantidade de gente que tinha lá dentro. cheiro forte de incenso, tinha um povo numa roda dançando, todos de vermelho. entrei, sentei e fiquei lá olhando o "espetáculo". admito que me decepcionei, minhas expectativas eram que as coisas fossem mais mágicas, algo do tipo, 'o exorcista' com objetos voando e tal, de o exorcista só tinha o povo recebendo os santos.

o tempo foi passando, o calor aumentando, e nada de realmente cinematográfico acontecia, isso foi me entediando ao extremo. minha garganta foi ficando seca, mais pessoas baixavam a pomba-gira no corpo. o batuque dos tambores começaram a martelar na minha mente, cada vez mais rápido, o ar quente invadindo meus pulmões e o cheiro forte de cecília, ou seja cecê, nublou a atmosfera da sala. era suor demais, risadas demais, incenso demais, cachaça demais [eu não bebi], vermelho demais, gente rodando demais, calor demais, tudo rodando junto, tudo cheirando forte. eu comecei a ficar tonto e suar frio. acreditem eu tive uma bad trip dentro do ilê, segundo minhas amigas eu estava amarelo e minha boca estava toda rachada de tão seca que ficou, na verdade, eu quem estava fazendo a menina do exorcista no centro de macumba.

minhas amigas perceberam o nível da bad em que eu estava e me carregaram para fora da sala, me sentaram numa sombra, me deram água e aos poucos eu fui voltando ao normal. fui embora de lá sem olhar pra trás e antes que alguma mãe/pai-de-santo me visse e falasse que era santo que estava pedindo passagem. nunca mais eu voltei lá, e nem pretendo. comemorar halloween na macumba não deu certo, vou te contar...


p.s: foto meramente ilustrativa.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

história 155: ameaças de morte.

eu estava ali no meu momento mais vintage do ano, mexendo numa daquelas caixas que a gente guarda tudo. ah, vai me dizer que você não tem uma dessas caixas onde você guarda de tudo quanto é coisa nessa vida principalmente, papel de chocolate, fotos, cartas antigas, cartões postais enfim tudo que te faz lembrar de alguma coisas.
daí entre papeis de balas, figurinhas, chaveiros, cartões postais encontrei minha primeira carta com ameaça de morte, e me trouxe tanta lembranças. duvido que você tenha uma carta com ameaça de morte na sua caixa de lembranças, tem?

vou te contar essa história... meu primeiro, primeiro emprego, que nem é pra ser considerado um emprego porque eu ganhava quarenta reais por mês, foi quando eu estava no ensino médio e estudava à noite. daí um antigo amigo abriu uma locadora de vídeo-game, mas ele estudava pela manhã e não tinha ninguém de confiança para ficar para ele, eu me candidatei ao cargo. três amigos eram donos dessa locadora, cada um responsável por um dos turnos, como meu amigo tinha me contratado pra ocupar o turno da manhã o terceiro, responsável pelo turno da noite contratou um menino para ficar para ele à noite. depois de um tempo, todas as manhãs quando eu ia conferir o dinheiro do caixa na manhã seguinte estava faltando dinheiro, coisa pequena, pensando hoje, nada além de cinco ou seis reais, mas na época era um absurdo de dinheiro para nós. o clima de desconfiança era total entre os três sócios, entre eles e eu, entre eu e o outro menino, entre todo mundo. quem estava roubando o dinheiro? era a pergunta que não queria calar.

todas as desconfianças caiam em cima do menino que ficava à noite e de mim que abria o negocio. meu amigo começou me acompanhar pela manhã para provar que não era eu quem pegava e mentia que recebia o caixa desfalcado. minha inocência foi provada e eles resolveram fazer uma reunião onde tudo mundo colocaria em pratos limpos o que achava da situação.

na hora da tal reunião, meu amigo e patrão saiu em minha defesa dizendo que ele tinha vindo comigo e tinha aberto a locadora e que já estava sem dinheiro e tal. eu caí matando na minha self-defense, a minha defesa foi tão boa que o menino ficou transtornado e veio pra cima de mim para bater, o povo agarrou esse menino e eu lá, linda e fina olhando para a cara dele com o olhar mais sínico do mundo, mesmo que não fosse ele, naquele momento ele se entregou com a perda do controle. não chegamos a uma conclusão naquela tarde e na manhã seguinte estava lá a minha primeira [e até agora única] carta com ameaça de morte.

a carta não dizia coisa com coisa, tinha uns desenhos de bonecos sem o pescoço e a cabeça nos pés sangrando. as poucas palavras que tinham era dizendo o quanto ele me odiava, o quanto ele queria me matar numa emboscada e o quanto negros não se misturavam com brancos, não sei onde o conflito racial realmente entrava na história, mas tudo bem. depois de tanta confusão eu resolvi sair da locadora, o menino continuou trabalhando e o dinheiro parou de sumir, com um tempo ele foi embora pra são paulo, e eu nunca mais ouvi falar nele. até gostaria de saber qual foi o destino da criatura, será que ele ainda quer me matar? é melhor não arriscar, né?! então, se eu aparecer esquartejado e sem cabeça, já sabem. vou te contar...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

história 154: gente efusiva... [help me!]

diz-se que pessoa efusiva é aquela que abraços demais, conversas demais, dá detalhes demais, perguntas demais, tem proximidade demais, dá sorrisos demais, tudo isso sem a menor intimidade.

pois é, eu tenho passado por isso. ela é amiga em comum de uma amiga, e numa roda de conversa, ela contou-nos uma situação e eu, quero fazer linha bom samaritano, dei um conselho para a menina, de como eu agiria no lugar dela, sobre a tal situação totalmente previsível. como previsto o que eu disse que ia acontecer, aconteceu e ela agiu da forma que eu disse que achava que ela deveria agir e tudo deu certo. pronto, agora ela é minha melhor amiga. se eu passo lá longe, tenho que suportar a criatura gritando meu nome e balançando a mão, frenética feito um boneco de posto. não é só isso, eu não sei como a menina descobriu meu número e numa tarde, ela, dentro de vinte e cinco minutos – ou menos –, me enviou dezesseis mensagens de texto [juro] meu celular parecia um consolo de puta velha não parava de vibrar, além dos SMS ela me ligou três para confirmar se as mensagens tinham chegado – é de quer morrer, não?! dizendo o quê? você poderia perguntar. e eu respondo: dizendo nada, só besteira, só me atrapalhando trabalhar.

já estou em ponto de ebulição, mas ao mesmo tempo não quero ser rude nem bancar o antipático com ela. sou contra a chamada, postura britânica "não me toque. não me conte sobre você. eu não estou interessado" mas eu também não quero bancar o personal amigo conselheiro e escritor de auto-ajuda. só sei que é uma situação complicadíssima, ainda mais quando você se simpatiza com a pessoa e percebe que ela não percebe o quanto está sendo invasiva.

mexer com gente não é coisa de deus, não. sabia? vou te contar...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

toda cura para todos os venenos

venenosa!
êh êh êh êh êh!
erva venenosa
êh êh êh êh êh!
é pior do que cobra cascavel
o seu veneno é cruel
el! el! el!..

rita lee – erva venenosa.



mais pessoas, do que eu esperava, daqui de minha cidade leram o texto sobre o desfile e vieram comentar que nunca sabiam que eu gostava de moda, que eu entendia [basicamente] do assunto e que achavam que as roupas "estranhas" que eu costumo usar era só para ser fazer o diferente. muita gente também veio dizer: "depois daquele texto, quero morrer sua amiga(o)..." como se eu fosse uma cobra venenosa prestes a cuspir veneno no primeiro humano que passar na minha frente. as coisas não são bem assim, e ter opinião própria está cada vez mais difícil.

coco chanel já dizia: "o ato mais corajoso ainda é pensar por si mesmo. em voz alta."

não é de hoje que todo mundo sabe que ser realista, criticar o que se vê e não forçar uma opinião só para agradar as pessoas é uma coisa que realmente incomoda muita gente, até mais do que os elefantes. tentar tampar o sol com a peneira não é comigo, mas também não sou metralhadora que sai por aí dando tiros nas pessoas. com uma palavra se constrói e se destrói mais ainda... sei disso que já fui vitima de más palavras que até hoje ressoam em meus ouvidos, e furam minha cabeça como se fossem pregos afiados, mas também já fui ovacionado com palavras de pessoas verdadeiras e o calor dessas palavras supera a dor de qualquer ponta cortante. mas a vida é assim, nem tudo agrada todos. e não temo em dizer que nunca mudará - tão clichê dizer isso.

[momento antipatia blasè] eu não vou escrever coisas para agradar as pessoas, e nem tenho que fazer isso. lê meus texto quem quiser. eu sou do time que acha que todos tem direito a tudo. como eu tenho direito de escrever o que quero, vocês tem direito de gostarem ou não e de [melhor ainda] comentar o que quiserem, isso se chama harmonia. vale lembrar que iso não é um pedido de desculpas e não retiro nenhuma das palavras do texto abaixo. mas tenho que dizer que tudo que escrevo não faz parte de uma idéia coletiva, nem quero que faça, mas nada mais é do que a opinião de alguém que sabe o que é agradável aos olhos. [in]felizmente vou continuar falando o que eu penso, gostem as pessoas ou não. perdoem-me por esse texto sem graça, mas eu precisava dar uma resposta.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

história 153: I fashion night.

devo começar dizendo que eu achei que não poderia ser pior. fico pensando em que basear para começar a analisar o desfile que teve em minha cidade no ultimo sábado, se é que esse tem qualidade para ser analisado. percebo apenas que não posso nem ao menos pensar em pensar em basear-me numa spfw ou fashion rio [fiz vocês rirem, né?].

vamos começar pela arquitetura e decoração: na verdade não tinha uma decoração. a passarela era forma de 'T' feita de mesas de escola com um tapete vermelho sob as mesas, do lado tinha um babado de papel crepom branco para esconder as pernas das mesas e algumas flores artificiais brancas e azuis presas com uma visível fita adesiva. o mais trash era o letreiro feito de isopor com letras tortas de cola colorida e pisca-piscas de natal, que inclusive no meio do desfile queimaram metade ficando apenas o 'ion' de fashion piscando sem parar.

sobre as roupas: ah, as roupas... que roupas? das quase trinta pesas que vi pouquíssima, pouquíssimas coisas me agradaram de verdade. inexistentes foram as tendências de moda. o jeans reinou e stretch salvou a vida das mais gordinhas que subiram na passarela ["benditas" pernas grossas], cores apagadas, peças mal combinadas e nada que eu realmente recomendaria alguém usar.

sobre os modelos: todos conhecidos, claro! sentei-me na fila da frente, numa das pontas do 'T', lugar estratégico para que todos eles parassem na minha frente para eu poder fazer o carão e analisar. [in]felizmente não posso e não quero divulgar nomes, mas o modelos foram um caso à parte da bizarrice total, os que se distaram foram: a moça gelatina, era engraçado ver que quando ela parava nas poses algumas partes do corpo [bunda, peito, pernas] continuavam mexendo feito uma gelatina, daí o nome. a menina "animação" assim entre aspas mesmo, a animação da criatura era tão grande que quando ela entrava na passarela dava vontade de sair correndo chorando só de ver a cara de "animada" da menina, praticamente uma zumbi, até com o pescoço torto para o lado ela andava. o menino robô, lindo de viver, mas tão durinho, tão sem ginga, tão sem graça, tão... robótico que ofuscava-se sua beleza tão européia. destaque para as duas negras que desfilaram, eram bonitas e com um certo porte de modelo. reais diamantes brutos, bastaria uma boa lapidada. teve até um [único] rapaz que entrou de sunga na passarela, uma delicia aquele menino. foi notório a frisson das meninas na platéia, eu fazendo a santa e nem me manifestei. e tudo mundo dizia: "meu deus, nunca tinha observando esse menino antes" vocês não, amopôs? eu já! dos meninos que desfilaram ele sem duvida é foi melhor. as crianças que desfilaram eram as coisas mais lindas do mundo, dava vontade de morder. a moda infantil salvou o desfile do fracasso total.

então é isso, dava para ter sido melhor, bem melhor, mas não foi. e eu não tenho culpa por isso. não me lembro de alguém vindo pedir minha opinião, pouca gente aqui sabe do que realmente sou capaz [para bom e para ruim].
legal mesmo foi a festa que teve depois do desfile, mas isso é uma outra história. adivinhem? vou te contar... claro!


dança potranca...


i wanna be fashion!


ui que medo! morde?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

só para adiantar...

... vai ter um desfile de moda sábado nessa cidade, evolução? creio que não. mas devo dizer que eu vou, claro! e volto segunda-feira para contar as bizarrices, ou não.

foto: fashion playground 18 by Soldi on deviantart.com

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

você é caça ou caçador?

imagine a cena, tudo começa com um cervo [lê-se veado] caminhando tranqüilo no meio da savana africana, ele para embaixo de uma daquela árvores retorcidas, tão típicas. olha para um lado, olha para o outro e começa a comer um capim básico, mas numa moita próxima um leão o observa sedento pela carne macia e gostosa do veadinho, digo cervo. o que ninguém sabe é que aquele cervo já tinha visto o leão na espreita e na verdade o cervo escolheu aquele leão para caçá-lo e comê-lo, muito antes do leão imaginar que ele era o caçador. nos próximos minutos você poderia ver um cervo correndo loucamente um leão correndo ainda mais. por fim o cervo é comido, fim da história.

transportando isso para os nossos dias seria mais ou menos assim: as luzes estroboscopicas da boate brilham mais do que o sol, o cervo entre tudo arrumadinho e perfumado, olha ao redor fingindo desinteresse aos outros membros da savana [lê-se faz carão no dance floor] ele caminha até o bar, pede um drink e bebe distraidamente, o que você não sabe é que numa mesa próxima há um leão observando-o, sedento por sua carne hidratada e cheirosa. quando o bicho se dá conta o leão já está em cima dele com toda a lascívia de Baco. o que se vê depois é o cervo ser abatido num canto escuro, mas o que o leão não sabe, e provavelmente nunca vai saber, é que o cervo já tinha o visto desde o primeiro momento que pisou os pés no ambiente.

na vida é assim. existem dois distintos grupos, os que são 'caça' e o que são 'caçadores'. eu devo ser sincero em dizer que prefiro ser caça, a caçar. talvez por conta de meu ater-ego exacerbado e por gostar de saber que existem pessoas interessadas em mim. eu sei, eu sei isso soa totalmente egocentric-soft-porn ou apenas narcisismo, mas eu sou assim. e como uma boa caça eu escolho meus predadores sem saber eles que eu quem os escolhi. eu devo estar acabando com a vida de vários caçadores agora, não?! mas queridinhos, verdade seja dita, você quem são caçados e não nós, como ninguém nunca imaginou que fosse.

mas devo dizer que todos nós estamos suscetíveis a ser caça e caçador, depende do clima [risos] e no papel de caçador digo que não há nada pior do que uma caça que se acha a última pedra de diamante da África do Sul, não há nada mais chato do que lidar com gente que se acha, eu não tenho paciência para pessoas assim. há que se fazer um charme, claro! mas tudo que é demais é sobra, concordam?! antes que termine esse texto, devo dizer que ser um caçador não significa necessariamente ser ativo, para bom entendedor, meia palavra basta.

como dica final quero dizer que assumir papeis e não ser flexível é uma coisa ruim, mas tenha uma preferência. caças sejam boas caças e caçadores venham quentes, por que geralmente estamos fervendo, vou te contar...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

história 152: louis vuitton

minha tia retornava de são paulo, e nós todos nos reunimos na casa de minha avó para vê-la. entrei com minha mãe, ela estava sentada no sofá da sala. a primeira coisa que eu notei foi uma bolsa da louis vuitton pendurada no ombro dela. automaticamente eu dei um grito, todo mundo olhou pra mim. sorri para disfarçar e disse:

- tia, que bom vê-la. fez boa viagem?

abracei-a e ao pé do ouvido eu disse:

- você está usando uma bolsa da louis vuitton... tô morrendo de inveja.

ela me beliscou assim do lado, nos soltamos do abraço, ela olhou pra mim, pôs um sorriso amarelo na cara e entre os dentes disse:

- é da 25 de março, cala a boca!

eu não quis acreditar. eu já tive contatos imediatos de terceiro grau com bolsas da louis vuitton antes, e devo dizer que aquela era a copia mais bem feita de que já tinha visto na minha vida. fui pesquisar sobre a pirataria no Brasil e tal, acabei descobrindo que mais da metade, cerca de 68%, da mercadoria que entra no Brasil e é vendida no “mercado informal” é original e roubada. ou seja, tem neguinho levando produto pra casa achando que é copia e na verdade é uma original. seria esse o caso de minha tia e sua bolsa? de qualquer maneira peguei o endereço da “loja” onde ela tinha comprado a bolsa, qualquer coisa que eu passar por são Paulo, eu passo por lá. vai que eu dou sorte e levo uma louis vuitton original para casa, né?! sonha, viado. porque sonhar é bom. vou te contar...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Era uma vez...

...num lugar muito, muito distante e numa época onde as coisas eram bem mais difíceis do que são hoje, havia um velho sábio que resolver peregrinar com seu discípulo pelo mundo, a fim de ensinar-lhe todas as coisas que precisava aprender.
Eles chegaram numa região muito seca e pobre. Ao longe avistaram uma velha casa, de paredes descascadas e telhas faltando no telhado. Eles pediram entrada na velha casa. Lá havia um senhor, sua senhora, cinco filhos e uma vaca magra.
O sábio sentou-se e pediu um copo com água e prontamente foi a tendido pela senhora da casa, o discípulo também bebeu da água, ao fim de sorver o liquido do copo, ele perguntou ao dono da casa:

- Essa é uma região muito pobre, não?!
- É sim - respondeu o dono da casa.
- E como o senhor faz para sobreviver aqui, com uma mulher e mais cinco filhos? - perguntou o discípulo, intrometido.
- Bem – começou o senhor a responder – graças a Deus eu tenho uma vaquinha lá no quintal, ela dá quatro litros de leite por dia, dois eu vendo e compro mantimentos, que é pouco, mas tem dado pra nós, e os outros dois nós bebemos.

O sábio nada falou, apenas agradeceu o copo d'água e foi-se embora com o discípulo. Eles caminharam um bom tempo, quando avistaram, nada mesmo do que a vaca que pertencia ao senhor da fazenda onde eles tinham bebido água. O sábio e o discípulo pararam diante da vaca, o sábio foi o primeiro a falar:

- Quero que jogue essa vaca de cima desse precipício para que morra.
- Mas mestre – retrucou o discípulo, incrédulo – o senhor vai acabar com a vida daquela família, o senhor não o ouviu dizer que era dessa vaca que ele tirava o sustendo? Como pode ser tão cruel? Ela deve ter fugido, vamos devolvê-la, é o certo a fazer.
- Quero que jogue essa vaca de cima do precipício para que morra – repediu o sábio, sem dar mais explicações.

Como tinha jurado confiar e obedecer aquele velho sábio o discípulo fez o que ele tinha lhe mandado, mas seu coração chegava a doer. Como foi planejado, a vaca foi jogada, e teve uma morte rápida. O sábio e o discípulo foram embora sem olhar para trás.
Alguns anos se passaram e se aproximava o fim do estagio do discípulo, o mestre veio até ele e disse que queria passar-lhe uma ultima lição, disse que ele entenderia tudo, que aliviaria seu coração com essa ultima viagem. O sábio o mandou sozinho para a mesma casa que eles tinham bebido água um dia, a mesma casa que a família tinha como único sustendo uma velha vaca magra. O discípulo sem entender o propósito do mestre, e achando-o cruel ao ponto de querer saber quão grande era a desgraça que ele tinha causado, mesmo assim, ele viajou para a região.

Ao longe pode avistar, no lugar da velha casa, uma casa grande, agora era uma fazenda prospera, grama verde, galinha, patos, cabras, cavalos, vacas e muitos homens trabalhando. O sábio foi até a porteira, quem veio atendê-lo foi um homem bem nutrido, corado e feliz. Ele pediu noticia de um certo senhor que havia morada alí há muito tempo atrás, o homem forte disse que ele quem sempre tinha morada naquele região. O senhor disse:

- E eu te conheço, homem. Você esteve em minha porta e pediu água, estava junto com seu velho mestre.
- Sim, pois sou eu mesmo – confirmou o discípulo, ainda sem entender o que havia se passado e porque tudo tinha mudado daquela maneira, ele perguntou: - mas o que houve, se me lembro bem, o senhor tinha apenas uma vaca para seu sustento, explique-me?
- Pois bem, houve um acidente naquele mesmo dia que você esteve aqui, minha vaca caiu do precipício e morreu. Quando eu me vi diante daquela situação, tive que buscar outros meios para sobreviver, e descobri que era capaz de fazer muitas coisas, trabalhei duro, e agora estou aqui, tenho uma das melhores fazendas da região. Sou talvez, o homem mais rico e feliz da região, meus filhos estão estudando e minha mulher espera outro bebê, tenho vários empregados que com esse dinheiro eles sustentam suas famílias.

O discípulo, calou-se, deu meio volta e foi-se embora. Ele entendeu tudo que o sábio havia feito, e não conseguiu pensar em outra frase a não ser: "há males que vêm para bem". Em seu caminho de volta o discípulo rio de si mesmo, por não ter pensado numa frase tão antiga, que ele julgava ser tão boba e inútil. Daquele dia em diante ele passou a ser um sábio.

Dia 05 de outubro minha vaca caiu do precipício, e entrou em estado de coma. Sei que ela tem data certa para morrer. E eu não temo nada que está por vim. O mundo é grande e o caminho me espera, talvez não será nesta terra que verei as flores lindas que sonhei no meu inverno. Vou seguir em frente, de cabeça erguida, por que lá estive por capacidade, não por privilégios ou subterfúgios. Lutei, fiz o meu melhor, tenho consciência que sou um astro que emite luz própria. Brilhei, e se brilho aqui, brilho em qualquer outro lugar. Seguirei em frente [sempre] por que eu sei que há males que vêm para bem.