terça-feira, 26 de maio de 2009

história 178: o caso da estrela torta...

quando eu terminei de contar essa história para bartô, ele me perguntou: “cara, você já contou isso em seu blog ou algo assim?” minha resposta foi negativa, ele continuou: “cara, você precisa contar essa história, é singular... nunca vi nada igual”. e é Influenciado por bartô, que eu resolvo contar essa história, que é dos tempos da bahia [ai, que saudade] dos tempos que eu era menor de idade, dos tempos que eu fazia muito mais merda do que eu faço hoje. é a história de como eu tenho tatuagens de estrelas nos ombros – uma em cada um.

já havia um tempo que eu estava planejando fazer uma tatuagem. eu já tinha o olho de Horus nas costas, mas uma tatuagem só não estava me deixando satisfeito, foi por isso que naquela manhã eu acordei – mais do que nunca – com vontade de fazer uma tatuagem. juntei toda minha coragem e fui na casa de um amigo tatuador, era um domingo.

“quero uma estrela em cada ombro”, eu disse. ele não pensou duas vezes, fez os desenhos e começou a me tatuar. a primeira tatuagem, a estrela no ombro esquerdo, saiu linda, do tamanho que eu queria, na posição que eu queria, traço fino, simplesmente bem feita. quem já fez tatuagem sabe que antes de começar o trabalho com a agulha o tatuador primeiro faz uma espécie de “teste” com uma tinta que parece carbono – lembra das provas mimeografadas do primário? bem parecida com isso!

terminada a primeira estrela, o cara colocou a outra na posição correta no ombro direito, mas o álcool ou sei lá o que ele usava para sair a tinta em minha pele, acabou. o cara saiu do estúdio para pegar um tubo novo, eis que eu olhei para o papel e pensei: “nossa, que torto esse papel” surgiu uma brilhante idéia na minha cabeça, mover o papel. Afinal de contas o tatuador tinha colocado numa posição errada, mas ele não tinha colocado numa posição errada – detalhe! O cara voltou, não atentou à mudança de posição do papel que eu fiz, passou o álcool, deixou o contorno de tinta meio roxa na minha pele, perguntou se erra isso que eu queria, respondi que sim, crente que mudando a pagina de posição tinha feito a melhor coisa de minha vida. 20 minutos depois a forma estrelar estava gravada para sempre em minha pele, paguei e fui embora pra casa em paz e feliz. Me exibi para minha mãe, meu amigos – aloka!

um dia, assim do nada, parei de frente ao espelho, eis que percebo o trágico acidente que eu “me causei-me” percebi que as tatuagens de estrala em meus ombros estavam totalmente diferentes uma da outra, mas quando eu digo diferente, é diferente mesmo... uma é mais grossa que a outra, a da esquerda eu vejo torta, mas as pessoas vêem a na posição correta, o contrario para a da direita, que eu vejo certa, mas as pessoas vêem torta. o que fazer agora? os mais drásticos diriam: “arranca na faca!” na verdade me resumi a aceitar que tenho estrelas diferentes em cada ombro o que me liberta, eu acho, do clichê gay das estrelas nos ombros, afinal de contas as minhas são, por assim dizer, diferentes uma da outra [risos altos]. agora já tenho planos de mudar essas tatuagens, mas isso é outra história, vou te contar...

domingo, 3 de maio de 2009

história 177: é um assalto!

essa história deveria ter sido contada há muito tempo, mas só agora tive tempo de senter, escrever e publicar. foi mais ou menos assim: luiza me chamou para ir no james bar naquele sábado, e ir para o james nunca é um grande esforço na minha vida - ainda mais com luiza, né?! mas ela sentiu-se mal e foi embora mais cedo. dancei, bebi glitter e beijei na boca. quando eu sai do james já passavam das 5 hrs da amanhã. desci a rua despreocupado, outras pessoas saiam de outras baladas e conversavam alto. cheguei na ruy barbosa e fiquei escorado no ferro do ponto de ônibus, uma menina encostou, mas logo saiu para falar com um grupo de pessoas que estava há uns cem metros de distância. eis que ele veio de bicicleta, passou direto e voltou. parou a bicicleta na minha frente, de uma maneira que não daria para eu escapar já que o ferro estava às minhas costas.

- arruma um real ai, vei – ele disse – tô morrendo de fome, tô querendo bater um cachorro quente ali.
- vixe cara, nem tenho aqui, só to com um real para voltar pra casa.

houve um momento de silêncio.

- então me dá o dinheiro ai, cara – ele ordenou com um tom de urgência e desaforo.

em meu bolso tinha uma moeda de um real, uma de cinqüenta centavos e pouco mais de quinze reais em cédulas. eu enfiei a mão no bolso e tirei as moedas e entreguei pra ele.

- to vendo volume de dinheiro de papel, passa ai cara... passa ai.

como esse bandido do inferno tinha visto isso? que olho clinico. minha mão parecia ter mil quilos, tamanha era minha má vontade de entregar meu dinheiro para aquele cara. penso que minha lentidão o irritou, pois ele levantou o casaco e me mostrou uma arma que ele tinha presa na cintura. eu não sei explicar o que senti, era uma mistura de medo com impotência, inutilidade, raiva. foi exatamente nessa hora que eu gravei a cara dele para sempre em minha memória, o jeans surrado e sujo, o casaco bege e vermelho – horroroso - , o cheiro ocri que vinha da boca na hora que ele falava e os dentes cariados e sujos – no fim, uma pessoa, apenas, para sentir-se pena.

entreguei meu dinheiro para ele, mas minha vontade era de avançar para cima e socá-lo, bater até ver sangue, até ele se arrepender do dia que subiu em cima de uma bicicleta com uma arma e decidiu que iria roubar as pessoas, mas não bastasse meu dinheiro, ele olhou pra mim e disse:

- manda o celular ai, também.

enfiei a mão no bolso, toquei no celular, pensei em todos os contatos que estava em meu chip, mas fotos de meus amigos da bahia, fotos de minha mãe, de minha cachorra, minhas músicas. a voz dele soou em meu ouvido:
“amanhã eu te ligo”.
meu celular tem um tipo de botão nas costas que faz abrir uma compartimento onde fica o chip e a bateria, tomei coragem e entreguei o celular apertando esse botão, quando ele pegou, o celular estava desmontado na mão ele.

- ei cara, me dá o chip ai – eu disse – esse chip não vai valer de nada para você.
- ta, eu te dou o chip – ele bufou visivelmente irritado, mas tirando o chip e me entregando.

quando ele fez sinal de que ia sair, já que não tinha mais nada para tirar de mim, eu disse:

- cara, você pegou todo meu dinheiro, eu morro na casa do caralho [eu senti muita vontade de falar palavrão nessa hora] e eu não tenho dinheiro pra voltar, me dá um real aí.

sim, eu comecei a dialogar com o bandido. ele enfiou a mão no bolso me devolveu minha moeda de um real que ele tinha acabado de roubar, se equilibrou na bicicleta e saiu tranquilo, simples assim. três minutos depois dele ter cruzado a esquina do colégio são josé um carro da policia passou na rua – too late.

ao menos eu fiquei com meu chip, consegui falar com ele e eu não precisei ir embora a pé. eis o primeiro assalto de minha vida, meu medo agora é passar a achar que isso é uma coisa normal. “a todo mundo passa por isso” como elas disseram. sim, todo mundo passa [ou passará], mas não deveria ser assim, não deveria ser assim. vou te contar...

sábado, 2 de maio de 2009

...por impulso, sem motivo ou lógica racional

desci do ônibus vazio de gente, atravessei a rua. um carro, outro carro, uma moto. eu parado na esquina. olhava a outra extremidade da rua, tão reta, tão calma, tão vazia, tão clichê... o barulho do vento nos fios acima de mim. o silêncio incomodo. meus músculos se contrairiam, tomei coragem, respirei fundo e me movi, corri. não saberia responder por que fiz isso, só fiz... corri e agora sei que há certas coisas que são assim, acontecem, são feitas [ou não - o que é pior].

[...]

eu correndo, o vendo frio, a loja de ração, a calçada suja auto mecânica, o brechó e a sorveteria, passei rápido, veio a igreja, a outra igreja, a floricultura, o muro quebrado, a casa do cachorro de três patas - e eu correndo - um turbilhão de pensamentos, e o vendo frio na cara, e o vento frio penetrando na roupa, cortando minha pele como navalhas. senti o sangue quente circulando incomodo nas veias, e o coração batendo rápido, mais rápido... e o coração batendo mais rápido? sim! eu ainda estou vivo.

o portão da casa, chave no cadeado, giro, entro, tranco... respiração ofegante, atravesso a garagem, e diante da porta do quarto que durmo, mão na maçaneta, puxo para baixo, entro, sento na cama, arranco o sapato, e o coração batendo forte, sim eu estou vivo e eu quero sentir algo.

titulo by - Jean; [via MSN]