sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

tudo ou [quase] nada

ela me observava em silêncio, mas seus olhos grandes, amendoados, olhos curiosos, falavam pelo silêncio de sua boca. devia ter cerca de oito ou nove anos de idade. sinto que boa parte de sua curiosidades estava destinada ao meu recem furado piercing no labio inferior esquerdo, meu cabelo arrepiado, ou talvez, nas minhas calças skinny e minha camiseta listrada.

ela tocou em meu braça, timida. olhei sorridente.

- quem é você? - ela perguntou com um sorriso.
- sou tudo que seus pais não querem que você seja - respondi, sorrindo, também.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

história 188: é no balanço do busão

cada singelo dia, desde que eu cheguei em Curitiba, é um dia incrivelmente diferente do outro – essa frase fica mais dramática em inglês – mesmo nas atividades corriqueiras do dia a dia. entre essas atividades está pegar o inter 2. aos que nunca estiveram em Curitiba alguma vez, ou se esteve, mas não experimentou da excêntrica experiência e entrar num inter 2, eu explico: o inter 2 é uma das linhas de ônibus, ele é um ônibus prateado que cruza diversos bairros, ou seja, é o mais cheio, mais disputado, mais um monte de outras coisas que não vale a pena descrever aqui, não vale a pena porque não é coisa legal, garanto. e adivinha? eu tenho que pegá-lo para chegar à faculdade, então é assim, todas as manhãs eu disputo um espaço com outra centena de estudantes e trabalhadores.


aquela era uma manhã normal, ao menos, os primeiros sinais indicavam que seria. eis que surgi o inter 2, poucas pessoas no ponto, o que era algo estranho. o "falcão prateado" parou, muita gente saiu, o que é algo mais estranho, o inter 2 estava ligeiramente vazio às 7:45 da amanhã, o que era algo realmente muito estranho. algo iria acontecer, eu tinha certeza disso. sabe como é, quando a esmola é demais, o santo desconfia. pois bem, entrei, não consegui um lugar pra sentar, o que é normal, sentar no inter 2 é pedir demais. me afastei da porta, penetrei entre os outros passageiros e me pus próximo a uma das barras de ferro, um homem estava à minha frente. ele estava de camiseta branca, calça jeans básica e tênis, olhou pra trás e percebeu minha presença às suas costas. ele era bem mais baixo do que eu, essa é uma parte ruim. era bem mais velho do que eu, isso não era tão ruim assim. era mais feio do que eu, essa era a parte realmente muito ruim. eu presumo que dentro de uma lata de azeitona ninguém se preocupa com quem está por cima ou quem esta por baixo, quem estava atrás ou à frente, afinal de contas, tá todo mundo está fodido, preso dentro de um pote e prestes a ser levado pra casa de um qualquer e depois ser comido. o inter 2 é basicamente assim, logo, ninguém reclama já que tá tudo mundo apertado.

é fato que motoristas de ônibus não se preocupam muito com sua carga, e nesse caso, a carga era eu. e no balanço do busão, se com intenção ou não, não saberia dizer, só sei que o tal cara veio mais pra trás, encostou em meu celular que estava no bolso da calça, gostou do que sentiu, voltou outra vez. eu me mantive no mesmo lugar, quer esfregar em meu celular pode esfregar, tô de boa. era muito cedo pra eu distribuir minha antipatia gratuita, mas ele mirou certo em eu pênis e veio faceiro, esfregou de leve, soube no que estava esfregando e continuou. se eu disser que não gostei, eu estaria mentindo, mas não devo negar que me incomodou a situação, basicamente porque estávamos circulados de várias pessoas. e pra piorar, quem tem um pênis pode confirmar, que pênis tem vontade própria, e com o meu não poderia ser diferente. sim, ficou duro! o que deixou o cara bem mais animado do que ele já estava. não me condenem, o cara tava lá, faceiro esfregando a bunda dele no meu pau, diante da situação não teve jeito, era uma bunda assim fácil, fácil ali se esfregando em mim, claro que o dito cujo ficou duro. e a cada balanço, a cada freada, a cada curva o cara roçava mais e mais em mim. e assim seguiram os próximos 20 minutos até o inter 2 chegar a plataforma de desembarque no terminal que eu ira descer pra fazer uma conexão para chegar na faculdade. na descida, eu de pinto duro, ao perceber que ele desceria no mesmo terminal, tentei sair na direção oposta a do cara, mas ele fez um malabarismo que eu não conseguiria explicar e ficou na minha frente de novo, na confusão da fila pra se livrar logo do ônibus ele esfregou mais em mim. ditados populares fazem total sentido agora, é por isso que eu dizem: "amor que fica, é amor de pica" vou te contar...