sábado, 22 de maio de 2010

história 200: essas loucas coincidências da vida

eu sai de meu trabalho às 21 hrs, como sempre. cruzei as ruas frias de Curitiba, ganhei a Rua XV, Praça Osório, dobrei a esquina pra chegar na Ruy Barbosa e para a minha surpresa meu ônibus já estava parado no ponto. não posso omitir que o nome da linha me assusta profundamente, mas quem não teria medo de uma linha de ônibus chamada "666 - Novo Mundo"?

enfim, caminhei rápido – porque não sou obrigado a correr atrás de ônibus, sou fina. beijos – para não perder meu Mercedez amarelo. motores ligados, tive que acenar para o motorista parar o veiculo e eu entrar. todos olharam pra mim – claro! e enquanto eu pagava e aguardava meu troco,um certo rapaz que falava ao celular chamou minha atenção principalmente, por não tirar o olhos de mim, pensei: "caramba, ele ta olhando pra mim. e nem ta disfarçando!"

sentei nos últimos bancos do ônibus, por mera falta de opção. ele ainda falava ao celular, virou-se na cadeira e ficou me observando de longe. o ônibus seguiu seu caminho e eu fiquei de boa em meu lugar, pensava mais na minha cama e no twitter do que qualquer outra coisa. não tive coragem de ficar encarando-o. fato: minha timidez "mim acabar com minha vida", como diria Leona, a assassina vingativa.

assim do nada, ele desligou o celular, levantou-se e veio caminhando em minha direção. eu pensando: "ai meu Deus, ele tá vindo... ele ta vindo, tá vindo... tá vindo...". o rapaz sentou-se ou meu lado, olhei pra rua pela janela, ele cutucou meu ombro, tirei os fones de ouvido "espera aí, Alison Goldfrapp, já volto...", pensei.

_ oi. – ele me cumprimento, estendendo a mão.
_ olá – cumprimentei, em resposta, apertando a mão dele.
_ muito prazer, eu sou o fulano [disse o nome]
_ prazer, eu sou Jarbas...

começamos uma conversa bem bacana sobre trabalho, faculdade, idade, lugares que frequentamos etc e tal.

_ eu desço no próximo ponto – eu anunciei.
_ mas já?!
_ pois é...
_ você se importa de passar seu telefone pra mim? – ele perguntou.
_ não, meu numero é [disse o numero]

ele deu um toque em meu celular, deixando gravado o numero dele. cumprimentos, despedida, aperto de mão, ele piscou o olho pra mim "ui, que susto!". desci do ônibus, ele acenou pela janela e sumiu junto com o ronco do motor na noite. caminhei devagar pra casa, ainda meio incrédulo, em tudo que tinha acontecido. pensei que dessa vez eu poderia ter encontrado alguém interessantemente diferente de mim e do meu way-of-life. ele era diferente de todos que já tinha conhecido, nada "moderninho", ele não conhecia nenhuma das baladas que eu frequento – só por isso já estava valendo.

na manhã seguinte, durante o intervalo das aulas, contei animado para minhas amigas o acontecido da noite anterior. veio o fim das aulas e meu celular empresarial toca.

_ Jarbas, vai ter reunião hoje às 16 hrs, no mesmo lugar de sempre, espero você lá – avisou minha supervisora.

cheguei cinco minutos atrasado e todos, num surto de pontualidade, já estavam lá. cumprimentei as meninas que estavam antes de mim, e as que entraram comigo na empresa e depois fui falar com uma moça que eu treinei durante uma semana. depois de perguntar como estavam as coisas na loja nova que ela estava cobrindo ela me perguntou:

_ por algum acaso você foi conversando com um cara no ônibus ontem?
_ sim – eu respondi, desconfiado. imaginando como ela sabia disso.
_ ele se chama [disse o nome dele]?
_ sim. – "o que tá acontecendo?", eu me perguntava

eu já estava procurando as câmeras. que coisa bizarra era essa que estava acontecendo comigo? algum tipo de pegadinha tosca do Sérgio Malandro? Silvio Santos? Big Brother? estava eu vivendo o Show de Thruman e não sabia? essa menina era algum tipo de vidente? macumbeira? Deus, como ela sabia dessa história?

a menina pegou o celular da mão da outra moça que estava sentada ao lado dela, e que até então estava calada, apenas observando. um toque no botão o display acendeu, ela direcionou a tela para pra mim, enquanto eu observava chocado, absurdido a foto que via, ela falou:

_ queria te apresentar [disse o nome da moça ao lado] a namorada dele. há quatro anos.

morri 3x vezes. fiz a Maysa e cantei na mente "meu mundo caiu". clamei por alguém que fosse suficientemente inteligente para me explicar a possibilidade matemática daquele fato estar realmente acontecendo, mas nada. era verdade...

a namorada do rapaz começou a me bombardear com perguntas sobre como nos encontramos, o que conversamos, se eu achava que ele era gay. criei uma nova versão para a história, onde sentamos juntos meramente pela falta de espaço no ônibus, que só conversamos coisas de hominhos [o que não deixa de ser verdade], omiti a parte que ele falou que era solteiro, e as perguntas sobre baladas e noite. pra quem mentir pra moça? você deve estar se perguntando. simples assim, (a) aquele era um triangulo amoroso, que nem tinha começado, e eu já queria acabar, (b) homem-gay-solteiro é complicado imagina um pseudo-hetero-namorando, é praticamente o apocalipse Maya e (c) não, não seria eu quem iria acabar com os sonhos de uma noite de verão da moça, né?! não sou assim tão má – não de graça. ela me perguntou:

_ mas você passou seu número pra ele, né?!
_ não – respondi, categórico – ele quem pediu...

podem até achar que sou piranha, mas não sou oferecida. eu continuei: "... e o motivo pela qual ele queria meu numero, pergunte pra ele, porque eu não saberia te responder" disse e me afastei.

ainda tonto sentei perto das outras meninas. incrédulo, pensativo, tive certeza que o mundo é bem menor do que eu pensava ou alguém lá em cima estava fazendo uma piada de muito mal gosto comigo.

mas desgraça pouca é besteira. sim, tem mais... se prepara. minha supervisora começou a falar na frente da sala, disse:

_ vou começar falando de algumas mudanças que vão acorrer. fulana [disse o nome da menina que eu treinei] vai pra loja de cicrana [disse o nome da menina namorada do rapaz] e cicrana vai pra loja tal, trabalhar com o Jarbas.

santa ironia, Batman. e foi assim que ela descobriu que eu tinha conhecido o namorado dela na noite anterior. porque minha supervisora já tinha a avisado sobre a mudança, antes de falar comigo. ela comentou com o rapaz e ele, sabe-se lá Deus porque, contou que tinha me conhecido. agora, de segunda a segunda, ela está lá, falando do bebê, o amor da vida dela, o tempo inteiro. é por isso que eu digo: "a vida, mesmo louca e absurda, é um eterno aprendizado. ai, que loucura!" tem que ser assim? vou te contar...